Booking ou Brexit. O que causou o final de uma das maiores operadoras de turismo mundial? No dia 23 de setembro, o Reino Unido acordou com a notícia de que a Thomas Cook, a empresa mais antiga do país no setor de turismo e viagens, entrou no processo de liquidação devido a não dispor do financiamento necessário para continuar operando. Basicamente, faliu. Thomas Cook, mais uma empresa zumbi, arrasta uma dívida de mais de 1.7 bilhão de libras. Os esforços por parte dos estados europeus para repatriação de 1500 turistas britânicos e 3500 de outras nacionalidades começaram essa semana.  O custo total da repatriação de todas as pessoas afetadas pela falência da companhia será de 100 milhões de libras.

A grande pergunta que os analistas fazem é se foi o Brexit ou a incerteza política econômica. Afinal, o que foi que matou a empresa? Ou isso é um processo natural de morte de um decadente modelo de negócio ameaçado pelos baixos custos de empresas melhores adaptadas a tecnologia moderna como o Booking ou o Airbnb. Thomas Cook sobreviveu a 2 guerras mundiais mas não ao Brexit, afirmavam hoje de manhã analistas da Bernstein, lembrando dos 180 anos de história da empresa. Lógico que analistas e a imprensa em geral não iriam perder a oportunidade de uma falência de uma grande empresa inglesa para culpar o Brexit, que aliás, ainda não aconteceu. Mas desde quando precisamos de fatos para sustentar a narrativa? Se você atende a narrativa, bem, isso é tudo o que importa.

Sim, a empresa é antiga, sim, ela sobreviveu às 2 grandes guerras, mas a sua falência não tem nada a ver com o Brexit. O problema é que é muito difícil sobreviver numa área em que seu modelo de negócio torna seus serviços caros e desnecessários ao mesmo tempo.

Agências de turismo vendem credibilidade. Há algum tempo atrás, a gente tinha medo de ir para um lugar que não conhecíamos, daí a agência de turismo servia como uma espécie de guia que vendia pacotes para aqueles locais.  A gente comprava a quase certeza de que tudo iria dar certo. Eles nos ofereciam as passagens mais baratas, os melhores custo benefícios em termos de hospedagens e passeios para um local que você não conhecia.  Elas vendiam tranquilidade.  

O problema agora (para elas) é que você mesmo faz isso. Podemos entrar em sites que comparam preços de passagens aéreas, hotéis, aluguel de carros, passeios, dicas, enfim, tudo relacionado aquele local.

A falência da Thomas Cook não é um acaso isolado. É parte de um processo que se iniciou com o desenvolvimento da internet.

Com a web 1.0, tínhamos sites estáticos, Hotmail, Netscape, Napster, Yahoo, portais de notícias que deram um duro golpe nos jornais impressos. Programas de compartilhamento de arquivos, como o eMule, que acabaram com as lojas de CDs de música.

A web 2.0 já permitiu sites interativos como Facebook, Twitter, Youtube e aplicativos como o WhatsApp. Está revolucionando as comunicações, os transportes, acabou com o monopólio dos táxis, de empresas de ônibus, da TV aberta e das operadoras de telefonia.

O próximo passo será a web 3.0, que promete descentralizar a transferência de dinheiro entre as pessoas através das criptomoedas, provavelmente acabará com cartórios, despachantes, contadores, advogados, com bancos da forma que conhecemos hoje, com boa parte da interferência dos governos, isso porque é muito difícil fiscalizar para taxar as transações entre os celulares das pessoas com dados que não passam por um único servidor, como é o caso do blockchain, tecnologia altamente segura e que utiliza blocos de informações guardadas em vários servidores pelo mundo que se unem, em uma combinação complexa, somente na hora de entregar a informação.  

 

Web-3.0

 

Existem tecnologias ainda mais difíceis de serem rastreadas, onde os dados nem passam por servidores. As transações são feitas somente através dos celulares. Como é o caso do Arcade City, aplicativo onde o seu celular fala diretamente com o aplicativo do celular do motorista, sem nenhum servidor central.

Estão se desenhando no horizonte formas de se fazer negócio longe das garras do governo. O que esse novo mundo reserva? Será que ele vai se auto regular ou vai precisar da modulação de um agente central? A queda abrupta na arrecadação gerará o caos ou se o dinheiro ficar nas mãos das pessoas elas terão um padrão de vida melhor e precisarão menos dos governos? São perguntas que, por enquanto, ficam no ar.

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