Você sabia que é possível criar negócios baseados nas técnicas das empresas do Vale do Silício sem precisar viajar para a região mais inovadora do mundo? E como você pode construir empreendimentos rentáveis, enxutos e escaláveis em qualquer parte do Brasil utilizando as técnicas dos profissionais que estão construindo praticamente tudo o que consumimos nas últimas décadas?

Vou lhe ensinar a remodelar a sua maneira de empreender descartando tudo o que você já ouviu sobre como se constrói um negócio convencional. Muito se fala sobre o Vale do Silício mas poucos conhecem os fundamentos por trás das empresas dessa região. Não é a tecnologia que faz esses negócios rentáveis e inovadores e sim a forma rápida como são criados e geridos. E você pode aplicar tudo isso na maneira e na forma como você constrói o seu próprio negócio.

Você pode estar pensando que esses ensinamentos e esse conhecimento só se aplica a grandes empresas ou a empresas de tecnologia. Na verdade, isso se aplica a qualquer empresa, de qualquer tamanho e de qualquer tipo de negócio. Para mostrar isso, deixa eu contar uma história: a Dra Alessandra Morelle, uma médica de Porto Alegre, trabalhava num hospital e queria fazer algo a mais pelos seus pacientes. Ela foi para o Vale do Silício, conheceu tudo o que há por trás dos negócios que são criados e geridos naquela região e lá entendeu de que forma, de que maneira ela poderia aplicar aqueles ensinamentos dentro da sua profissão. Ela voltou então para Porto Alegre e, desembarcando na capital gaúcha, ela criou o Tummi que é um aplicativo que permite acompanhar o tratamento de pacientes com câncer. Ela é uma médica oncologista e relatou que grande parte dos óbitos que acontecem no início da quimioterapia não ocorre pela doença mas sim pelos efeitos colaterais do tratamento e o Tummi permite justamente que a Alessandra e os outros médicos oncologistas consigam monitorar a distância o estado de saúde dos seus pacientes e, a qualquer sinal de anormalidade, os médicos são avisados. Esse exemplo mostra como essas técnicas do Vale do Silício não têm a ver somente com grandes corporações, grandes empresas, mas sim com pequenos negócios também. Um negócio simples e que não estão relacionados, a princípio, com a área de TI.

Algumas pessoas que têm contato com a cultura do Vale do silício, tomam um choque. O Maurício Benvenutti, autor do livro “Incansáveis”, ex sócio da XP Investimentos, assim que se mudou para o vale, relatou em um vídeo que tomou uma aula de garoto de 18 anos sobre como se constrói um negócio nessa nova economia. E foi a partir desse momento que ele começou a observar que tudo aquilo que  havia aplicado na construção de um negócio super bem sucedido no passado não servia mais para construir um negócio super bem sucedido no presente. Foi dessa forma. que ele concluiu que precisava mudar. Ele diz que precisava adquirir novas habilidades, capacidades e competências para conseguir aprender quais são as técnicas adotadas pelas empresas que estão sendo bem sucedidas na nova economia. A partir do momento que começou a morar no Vale do Silício, mergulhou nesse mundo para aprender, começou a conversar com inúmeras pessoas que fazem do Vale um lugar especial.

E foi daí que nasceu o seu primeiro livro, relatado anteriormente,  que conta justamente as práticas adotadas por essas novas empresas. E a partir daí ele conheceu inúmeros conceitos dessa região. O primeiro deles foi a questão do monopólio. Muito se fala que quando você constrói um business, um negócio, um empreendimento, você tem que tentar bater a concorrência, só que no Vale, a tendência é a criação de monopólios com barreiras de entradas difíceis de transpor.

O primeiro aspecto é tentar ser o melhor possível em uma determinada área e em um pequeno nicho. Quando você cria um empreendimento, você tem que ser o melhor naquilo. E não tem problema se for um mercado pequeno, é até bom que seja, pode ser até a sua rua, pode ser o seu bairro, pode ser a sua vizinhança, pode ser um segmento de pessoas, um segmento de uma profissão. No início do negócio, mais importante do que receita, faturamento e lucratividade, é você aprender o máximo possível sobre o business.

Quando você cria um negócio, o mais importante é você aprender o que está dando certo e o que está dando errado, o que as pessoas gostam e que não gostam. Mas para você conseguir aprender sobre seu negócio rapidamente, você não deve mirar na quantidade de clientes e no crescimento rápido em um primeiro momento. Tem que atuar na tentativa e erro, aprendizagem rápida sobre o business, validar a ideia. Conversar com o seus primeiros clientes e perguntar pra ele o que está bom que não está. Perguntar para ele o que pode ser melhorado em relação ao produto ou serviço que você está construindo. Quando você se propõe a testar o seu produto ou serviço em um mercado pequeno, você tem a possibilidade de falar com o teu cliente todos os dias e, consequentemente, aprender muito e rápido sobre o seu produto ou seu serviço ou solução. Quando você tenta escalar um negócio desde o início, você perde uma oportunidade enorme de aprender sobre ele. Depois que você validou, aprendeu o máximo, aí sim você pode se dar ao luxo de escalar o seu business. Do contrário, se você escalar desde o início, algo pode dar errado em uma proporção muito grande, e isso pode ser catastrófico, como relata Eric Ries em seu livro “A Startup Enxuta”. Você pode perder muito tempo e dinheiro no processo para depois descobrir que o mercado não quer aquilo ou não está preparado para aquilo. Que sua solução está fora do “time” (momento certo).

Quando o Talis Gomes começou a EasyTaxi por exemplo, ele montou um site com um número de telefone para as pessoas ligarem e pedir um táxi, ele atendia a ligação, ligava para o ponto de táxi mais próximo da pessoa e enviava o transporte, dessa forma, ele começou a aprender muito sobre o business e o resto da história todos sabem. Tem uma frase no vale que diz “Get out of building” que quer dizer saia do prédio, vá para a rua falar com as pessoas, testar a sua solução.

Outro exemplo é de um aplicativo de entrega de comida que começou no Vale do Silício, o DoorDash, os fundadores montaram um site com os cardápios dos restaurantes próximos, atendiam o telefone, iam no restaurante pegar o prato com o próprio carro e entregar, eles mesmos. Depois de seis meses fazendo isso eles criaram uma expertise naquele business que só eles tinham. Os fundadores falaram o seguinte: depois de seis meses fazendo isso, depois de seis meses voltando pra casa como “cheiro de peixe”, colocando a mão na massa, ninguém no mundo conhecia mais de entrega de comida do que a gente porque nós estávamos lá todo santo dia perguntando para o cliente, entendemos as dores e as alegrias. Todo santo dia fazendo isso. Só a partir de então, eles expandiram para todo o Vale do Silício, para toda a Califórnia, para toda a costa leste americana e para todos os Estados Unidos. Então esse é mais um exemplo que mostra justamente a forma como os negócios no Vale são criados. O Facebook se tornou um monopólio em Harvard, depois uma rede social de universidades e depois se expandiu para o mundo e assim a gente poderia citar vários outros exemplos (segundo o filme “A Rede Social” isso foi acontecendo organicamente, para surpresa até dos fundadores). Então construir negócios que se propõem a ser monopólios em pequenos mercados é uma das regras de sucesso das empresas do Vale do Silício.

A Startse, empresa que você conhece hoje e que promove tantos eventos super bacanas, que possui grande crescimento, com escritório em outros países, nasceu do Júnior Borneli e do João Evaristo, oferecendo cursos na internet dentro do quarto do filho, porque era o melhor local do sinal de internet (3G) na casa. A partir desses cursos, onde eles ensinavam as pessoas a como criar negócios, eles foram aprendendo o que dava certo o que dava errado, o que satisfazia as pessoas e o que não satisfazia. Olhar para a foto deles trabalhando em um espaço pequeno, nos faz pensar: Por que não? Por que eu também não posso conseguir? Não tinham um produto perfeito e não tinha um plano de negócios. Nesse momento, o que era fundamental para o Júnior e o João era aprender sobre o produto que estava sendo criado. Nos anos seguintes, esse aprendizado os levou a criar, junto com os demais sócios que entraram posteriormente, os produtos que hoje encantam milhares de pessoas. No início tudo isso foi construído com pouquíssimos recursos. Tudo foi feito com algo muito simples, na base da tentativa e erro e, na medida que mais tarde se aprendeu o que mais encantava os clientes, eles concentraram mais foco nos produtos de maior sucesso.

Na medida que os sócios foram mirando nesse caminho, a empresa foi se estruturando. A empresa foi obtendo cada vez mais lucros. E, no último ano, a empresa cresceu dez vezes o seu faturamento. Então, você acabou de aprender que para abrir a sua startup não é preciso um produto perfeito, muito dinheiro, anos de desenvolvimento de um produto para depois lançar e alta tecnologia.

Marcelo Molina da Molina advogados, um escritório de advocacia com cerca de 20 profissionais, oferecia serviços jurídicos da forma tradicional, só que ele percebeu que a forma como se faz advocacia está mudando. Marcelo foi para o Vale do Silício e entendeu essa dinâmica das novas empresas e voltou para o Brasil consciente de que não era necessariamente a tecnologia que poderia mudar o seu escritório mas a mudança de  mentalidade sua e dos seus colaboradores. Dessa forma, Marcelo criou o efeito “Uau” onde ele estabeleceu que, para todo o serviço contratado por um cliente do escritório, ele deveria entregar sempre algo além do que foi estabelecido. Dessa maneira, ele conseguiu encantar e fidelizar ainda mais os seus clientes. Um dos clientes, quando foi pagar uma parcela do serviço jurídico contratado, pediu para aumentar o valor cobrado em 20 por cento, de tão satisfeito que ele ficou. Então olha só, não é a tecnologia que fez da Molina divulgados um escritório diferente, foi a mudança de mentalidade, de mindset, que colocou o escritório de Marcelo dentro da nova economia.

Mas você pode falar: a minha empresa está relacionada com um negócio muito tradicional, isso não é para mim. Deixa eu lhe contar mais uma história que você pode utilizar como quiser e como inspiração para inovar o seu negócio. Um brasileiro inovou em um produto numa das indústrias mais antigas que existem, a indústria do sono. A Zissou criou uma experiência completamente nova para as pessoas que precisam comprar um colchão. O que eles fizeram: pensaram em quais são os momentos de dor, os momentos de dificuldade durante todo o processo: um deles, que a gente poderia elencar é o momento de você testar o produto. Por exemplo, quando as pessoas vão à uma loja para experimentar o colchão, elas não se sentem confortáveis para, no meio de uma loja, se deitar com muitas pessoas olhando. Logo, a forma tradicional não é uma experiência agradável. O que a Zissou fez, propôs o seguinte: você compra o colchão pela internet, dorme sobre ele durante 100 dias e, se você não gostar, eles devolvem o dinheiro e retiram o produto. Simples assim. Esse exemplo serve para mostrar que mesmo numa indústria extremamente tradicional, com um produto que, aparentemente não tem muito mais o que inventar, é possível sim inovar muito e revolucionar o seu mercado.

Pense o seguinte: tudo o que era considerado inovação há cinco anos atrás, hoje não tem mais relevância nenhuma. Tudo muda muito rapidamente. Se você usar a mesma metodologia que todas as outras pessoas estão usando, vai desembocar em um oceano vermelho (alta concorrência). Tente criar uma solução para uma dor específica e siga a metodologia citada anteriormente.

Todos os conceitos de criação e construção de negócios que você aprendeu ao longo da sua vida, planos de negócios de cinco, dez anos, anos desenvolvendo um produto para lançar no mercado, tudo isso não serve mais para nada. Pegue esse manual mofado e jogue fora porque os conceitos hoje para construir negócios de sucesso são completamente diferentes.

Portanto, mãos à massa, ache um nicho, desenvolva uma solução, a mais simples possível e a mais barata possível, lance rápido, aprenda rápido, persista no negócio ou pivote (mudar para outra solução) e só depois escale. Existe uma frase no vale que diz o seguinte: quando você não tem vergonha da primeira versão de seu produto é porque você o lançou tarde demais.

 

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